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domingo, agosto 22, 2004

Um alívio

O director do Expresso, José António Saraiva, descobriu que existe em Portugal «uma plêiade de comentadores (a que se deu o nome de "analistas"...)», que não tem uma «ideia» e se «especializou em triturar políticos» (quando não resolve cruelmente «triturar afins»). Escreve Saraiva: «Mal uma pessoa ocupa um cargo público é vista por esse grupo como uma figura a abater.» Segundo esta tese, a pretexto de que «os lugares do Estado são ocupados por gente de segunda, terceira ou mesmo de quarta categoria», os «comentadores» pedem uma demissão por semana, sem perceber, na sua inconsciência, que trabalham para a degradação do Governo e dos serviços e, sobretudo, para a instabilidade geral do País. Saraiva, misturando alhos com bugalhos, dá (fotograficamente) exemplos: Salvado, Ferro, Theias, Martins da Cruz, Lynce, Isaltino, Guterres, Jorge Coelho, Negrão e dois senhores que não consegui reconhecer. Infelizmente, da alta e original inteligência de Saraiva, sempre borbulhando de ideias, não saiu uma única explicação para esta especial perversidade dos «comentadores». Defeito inato? Vício adquirido? Corrupção? Saraiva não esclarece e nós ficamos sem saber. De qualquer maneira, nada salva as vítimas, criaturas de uma inexcedível nobreza. E ninguém salva Portugal de ser, como elas, abominavelmente «puxado para baixo». Os «comentadores», embora malvados, não perceberam ainda com certeza o seu poder e os seus crimes e, se não fosse o agudo espírito de Saraiva, a Pátria continuava a correr à sua perda. Agora, uma questão se põe: que fazer com essa nojenta e palradora raça? Extermínio? Desterro? Cursos de reeducação? Sobre este ponto, Saraiva também guarda um prudente silêncio. Mas, por mim, como «comentador», proponho uma solução mais fácil: que Saraiva se demita imediatamente do Expresso. Era um alívio.
VPV, D.N., 22/08/04.

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